Professor, seja bem-vindo
No início do ano letivo, estabelecer uma rotina de colaboração e entrosamento é fundamental para adaptar e integrar tanto alunos como professores novos.
A cada ano que se inicia, novos grupos de professores e alunos se formam. Como recepcionar, integrar e aproveitar bem o potencial dessas pessoas? Os especialistas são unânimes: saber que pertencemos a um grupo, de verdade, é fundamental para garantir o comprometimento e o bom resultado do trabalho, tanto dos educadores como dos estudantes. Por isso, os primeiros dias devem ser cuidadosamente preparados pela direção e a coordenação para receber os novos integrantes.Para muita gente, criar uma dinâmica divertida é a primeira idéia que vem à cabeça. Mas ela não é suficiente para garantir esse bom aproveitamento o ano todo. Não adianta enfeitar a escola se os funcionários não estiverem bem preparados para receber os estudantes, nem propor atividades de grupo sem avaliar anteriormente se alguém pode se constranger por ficar em evidência. O que vale mesmo é planejar situações que promovam o entrosamento e o desenvolvimento permanentes, não apenas no primeiro dia.
Poucas coisas são tão difíceis quanto se sentir um peixe fora d'água. Imagine o que significa o primeiro dia de aula para uma criança que acaba de chegar a uma escola nova e encontra velhos amigos se revendo e matando as saudades - e ela sem saber sequer onde é o banheiro. Para os adultos, a situação é igualmente delicada. Um professor novo encontra uma equipe estabelecida, com rotina própria e procedimentos que ele desconhece. O fato é que geralmente ele tem uma bagagem, uma experiência que precisa ser aproveitada pelo grupo.
O sociólogo suíço Philippe Perrenoud em seu livro A Prática Reflexiva no Ofício de Professor: Profissionalização e Razão Pedagógica, aponta competências básicas que ganham ainda mais relevância no início do ano: saber cooperar e trabalhar em rede, conceber a escola como uma comunidade educativa e aprender a se sentir um membro efetivo da equipe. Se você domina esses conceitos, já tem meio caminho andado para compreender as necessidades desse momento inicial e, assim, certamente vai ajudar a somar, em vez de dividir o grupo. "É na hora da passagem das turmas para o próximo professor que ficam evidentes esses conceitos", completa Marília Costa Dias, coordenadora pedagógica da Escola Projeto Vida, em São Paulo. Mais que entregar um relatório sobre o desempenho dos alunos, o ideal é conversar muito com o novo professor, apontando o desenvolvimento de cada criança, onde estão as dificuldades, qual o perfil da turma, quais foram os projetos desenvolvidos em anos anteriores.
Professor novo, nova equipe
Acompanhamento amigo: no colégio Renovação, em São Paulo, o aluno Caio (à esquerda) aprensenta a professora Katia Alcazar para o novato, Leonardo
Colaboração durante todo o ano letivo
No Colégio Renovação, em São Paulo, a aproximação dos professores novos e antigos se dá durante um café da manhã especial. Quem chega para o primeiro dia de trabalho encontra sobre a mesa, montada no auditório, um envelope com seu nome. Ao abrir, recebe uma mensagem de boas-vindas e uma missão bem simples, como servir outro funcionário. A idéia é transformar o primeiro contato num momento divertido e descontraído.
Durante o ano, a colaboração é sempre incentivada. Algumas reuniões são marcadas para que professores de uma mesma disciplina façam seminários e apresentações sobre os assuntos que dominam para os colegas de outras matérias - uma forma de mantê-los atualizados, melhorando seu desempenho em sala de aula e estimulando a troca de experiências. "Percebi desde o primeiro dia que a escola tratava os professores como uma equipe. E fiquei feliz por saber que estava começando a fazer parte dela", lembra a professora Patrícia Carla Souza, que estreou no Renovação em janeiro de 2006.
Acompanhamento profissional: um café-da-manhã é só o ponto de partida para uma troca de experiências entre professores do Renovação
Para Marília Costa Dias, iniciativas como essa, que colocam os estudantes como protagonistas, são uma ótima solução para uma cena triste e muito comum no início do ano: criança chorando na porta, o pai angustiado insistindo para o filho entrar e o professor aflito. Na Projeto, esse projeto de tutoria existe há quatro anos e Marília nunca mais viu esta situação. Ficou estabelecido que o primeiro dia de aula é para os alunos antigos. Assim eles podem matar as saudades à vontade. No segundo dia, entram os novos - e todas as atenções se voltam para eles.
Diagnóstico inicial: o que os alunos já sabem em todas as disciplinas
Antes de elaborar o planejamento, é fundamental descobrir que conhecimentos a turma já tem e como os estudantes resolvem diferentes problemas. Fazer sondagens e avaliações diagnósticas periodicamente ajuda a elaborar boas estratégias. Mesmo nas disciplinas ainda não ministradas aos alunos, é possível encontrar conhecimentos prévios. Veja como propor atividades de diagnóstico em todas as disciplinas
Diagnóstico em Língua PortuguesaUma
sugestão para começar o ano com a turma que acaba de chegar ao 6º ano é
propor uma situação de produção de texto. Verifique questões
gramaticais e de ortografia. Fique atento para a troca de letras
causadas pela interferência da fala na escrita. Após a avaliação,
trabalhe primeiro os erros comuns, sem deixar de lado as dificuldades
individuais.
Sondagem em MatemáticaSelecione
problemas para cada tipo de operação que deseja avaliar. Peça que os
estudantes registrem suas estratégias de cálculo para ver o que cada um
pensou para chegar a uma solução. Dê tempo para que os alunos resolvam
os problemas, sem revelar que operações devem ser envolvidas em cada
situação.
Avaliação em CiênciasOs
experimentos podem ser um bom caminho para avaliar o que a turma
conhece sobre os estados físicos da matéria, por exemplo. Proponha uma
experiência com dois copos dágua. Encha um deles com água e coloque
gelo no outro. Pergunte qual copo tem mais água e o que acontece com o
gelo quando ele começa a derreter. Pode ser um bom ponto de partida para
o trabalho.
Avaliação em HistóriaNo
6º ano, comece pedindo aos alunos que escrevam o que entendem por
História. Observe se todos conseguem ver os fatos como parte de um
processo histórico. Leve quatro trechos de documentos: a carta de Pero
Vaz de Caminha (1450-1500), a Lei Áurea, uma notícia nacional de poucos
anos atrás e uma reportagem do jornal do dia. Verifique se a turma
compreende fatos recentes como parte deste processo.
Primeiros contatos com os mapas na GeografiaNão
sabe se os alunos já tiveram contato com a leitura e produção de mapas?
Uma opção de diagnóstico é pedir que desenhem um mapa com o que se
lembram da escola. Verifique se os alunos usam os elementos
cartográficos, como legenda, título e indicações de escala.
Teoria e prática na avaliação em Educação FísicaAs
aulas de Educação Física são, geralmente, voltadas à prática. Este não é
um motivo para deixar a teoria de lado. Comece o ano fazendo perguntas
diretas sobre as modalidades e a cultura corporal, como Conhece o
jogo? ou Quais são os materiais usados?. Depois, articule a teoria
com a experimentação.
Avaliação em Língua EstrangeiraUma
boa sugestão é selecionar dois tipos de textos simples: um anúncio de
um filme e outro de um produto, por exemplo. Faça perguntas que exijam a
capacidade de encontrar as respostas no material, como: A que horas é o
filme? e Quanto custa o produto anunciado?. Assim, saberá o que os
alunos conhecem a respeito de um novo idioma.
Avaliação em ArteProponha
que a classe faça trabalhos de autoria, usando diferentes técnicas
artísticas para expor suas ideias, como pintura, escultura, desenho e
colagem. Verifique se a turma rompe estereótipos quando está em
atividades de criação e se utiliza referências, para, então, definir que
linguagens precisam ser aprofundadas ao longo do ano.
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