quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

INÍCIO DO ANO LETIVO

Professor, seja bem-vindo

No início do ano letivo, estabelecer uma rotina de colaboração e entrosamento é fundamental para adaptar e integrar tanto alunos como professores novos.

A cada ano que se inicia, novos grupos de professores e alunos se formam. Como recepcionar, integrar e aproveitar bem o potencial dessas pessoas? Os especialistas são unânimes: saber que pertencemos a um grupo, de verdade, é fundamental para garantir o comprometimento e o bom resultado do trabalho, tanto dos educadores como dos estudantes. Por isso, os primeiros dias devem ser cuidadosamente preparados pela direção e a coordenação para receber os novos integrantes.

Para muita gente, criar uma dinâmica divertida é a primeira idéia que vem à cabeça. Mas ela não é suficiente para garantir esse bom aproveitamento o ano todo. Não adianta enfeitar a escola se os funcionários não estiverem bem preparados para receber os estudantes, nem propor atividades de grupo sem avaliar anteriormente se alguém pode se constranger por ficar em evidência. O que vale mesmo é planejar situações que promovam o entrosamento e o desenvolvimento permanentes, não apenas no primeiro dia.

Poucas coisas são tão difíceis quanto se sentir um peixe fora d'água. Imagine o que significa o primeiro dia de aula para uma criança que acaba de chegar a uma escola nova e encontra velhos amigos se revendo e matando as saudades - e ela sem saber sequer onde é o banheiro. Para os adultos, a situação é igualmente delicada. Um professor novo encontra uma equipe estabelecida, com rotina própria e procedimentos que ele desconhece. O fato é que geralmente ele tem uma bagagem, uma experiência que precisa ser aproveitada pelo grupo.

O sociólogo suíço Philippe Perrenoud em seu livro A Prática Reflexiva no Ofício de Professor: Profissionalização e Razão Pedagógica, aponta competências básicas que ganham ainda mais relevância no início do ano: saber cooperar e trabalhar em rede, conceber a escola como uma comunidade educativa e aprender a se sentir um membro efetivo da equipe. Se você domina esses conceitos, já tem meio caminho andado para compreender as necessidades desse momento inicial e, assim, certamente vai ajudar a somar, em vez de dividir o grupo. "É na hora da passagem das turmas para o próximo professor que ficam evidentes esses conceitos", completa Marília Costa Dias, coordenadora pedagógica da Escola Projeto Vida, em São Paulo. Mais que entregar um relatório sobre o desempenho dos alunos, o ideal é conversar muito com o novo professor, apontando o desenvolvimento de cada criança, onde estão as dificuldades, qual o perfil da turma, quais foram os projetos desenvolvidos em anos anteriores.
Professor novo, nova equipe

Acompanhamento amigo: no colégio Renovação, em São Paulo, o aluno Caio (à esquerda) aprensenta a professora Katia Alcazar para o novato, Leonardo. Foto: Ricardo Benichio
 
Acompanhamento amigo: no colégio Renovação, em São Paulo, o aluno Caio (à esquerda) aprensenta a professora Katia Alcazar para o novato, Leonardo
"A postura aberta é imprescindível para que os novatos se sintam aceitos pessoal e profissionalmente", diz Raquel Volpato Serbino, professora de Pedagogia da Universidade Estadual Paulista e diretora da GAL Consultoria em Educação, em Botucatu, no interior de São Paulo. O ideal é que todos tenham a oportunidade de se apresentar aos outros e trocar experiências antes mesmo de as aulas começarem. Na EE Professor Magalhães Drummond, localizada num dos bairros mais violentos de Belo Horizonte, a postura aberta da comunidade escolar era pouco para receber os novos membros. "Por causa da fama negativa da escola, muitos professores chegavam com preconceito e medo", conta a coordenadora pedagógica Almerinda Alexandrina Damásio. No caso dos recém-chegados, a coordenadora fica atenta para os conceitos sobre coletividade, prática reflexiva, diversidade e superação dos limites - ou seja, atitudes, hábitos, métodos e posturas. As primeiras semanas do ano letivo são dedicadas a ampliar esses saberes.

Colaboração durante todo o ano letivo

No Colégio Renovação, em São Paulo, a aproximação dos professores novos e antigos se dá durante um café da manhã especial. Quem chega para o primeiro dia de trabalho encontra sobre a mesa, montada no auditório, um envelope com seu nome. Ao abrir, recebe uma mensagem de boas-vindas e uma missão bem simples, como servir outro funcionário. A idéia é transformar o primeiro contato num momento divertido e descontraído.

Durante o ano, a colaboração é sempre incentivada. Algumas reuniões são marcadas para que professores de uma mesma disciplina façam seminários e apresentações sobre os assuntos que dominam para os colegas de outras matérias - uma forma de mantê-los atualizados, melhorando seu desempenho em sala de aula e estimulando a troca de experiências. "Percebi desde o primeiro dia que a escola tratava os professores como uma equipe. E fiquei feliz por saber que estava começando a fazer parte dela", lembra a professora Patrícia Carla Souza, que estreou no Renovação em janeiro de 2006.

Acompanhamento profissional: um café-da-manhã é só o ponto de partida para uma troca de experiências entre professores do Renovação. Foto: Ricardo Benichio
 
Acompanhamento profissional: um café-da-manhã é só o ponto de partida para uma troca de experiências entre professores do Renovação
Com os alunos, o colégio utiliza o conceito de tutoria. A idéia é promover os primeiros relacionamentos de amizade do novo colega para que ele não se sinta deslocado. O acompanhamento dura, em média, três semanas ou até que o novato se familiarize com os espaços da escola, suas regras e os colegas. Caio Henrique Samora Pecego e Leonardo Thomazzo Matsunaga, ambos de 9 anos, cursaram juntos a 4ª série no ano passado. Caio era veterano, e Leonardo, recém-chegado. Graças a esse projeto, eles se tornaram amigos inseparáveis. "A gente se conheceu na fila, no primeiro dia de aula. Na hora do recreio, o Caio me levou para descobrir tudo, começando pelos melhores lugares, como a piscina e as quadras de esporte. Fiquei menos envergonhado e passei a curtir a mudança", lembra Leonardo.

Para Marília Costa Dias, iniciativas como essa, que colocam os estudantes como protagonistas, são uma ótima solução para uma cena triste e muito comum no início do ano: criança chorando na porta, o pai angustiado insistindo para o filho entrar e o professor aflito. Na Projeto, esse projeto de tutoria existe há quatro anos e Marília nunca mais viu esta situação. Ficou estabelecido que o primeiro dia de aula é para os alunos antigos. Assim eles podem matar as saudades à vontade. No segundo dia, entram os novos - e todas as atenções se voltam para eles.

Diagnóstico inicial: o que os alunos já sabem em todas as disciplinas

Antes de elaborar o planejamento, é fundamental descobrir que conhecimentos a turma já tem e como os estudantes resolvem diferentes problemas. Fazer sondagens e avaliações diagnósticas periodicamente ajuda a elaborar boas estratégias. Mesmo nas disciplinas ainda não ministradas aos alunos, é possível encontrar conhecimentos prévios. Veja como propor atividades de diagnóstico em todas as disciplinas


Diagnóstico em Língua PortuguesaUma sugestão para começar o ano com a turma que acaba de chegar ao 6º ano é propor uma situação de produção de texto. Verifique questões gramaticais e de ortografia. Fique atento para a troca de letras causadas pela interferência da fala na escrita. Após a avaliação, trabalhe primeiro os erros comuns, sem deixar de lado as dificuldades individuais.


Sondagem em MatemáticaSelecione problemas para cada tipo de operação que deseja avaliar. Peça que os estudantes registrem suas estratégias de cálculo para ver o que cada um pensou para chegar a uma solução. Dê tempo para que os alunos resolvam os problemas, sem revelar que operações devem ser envolvidas em cada situação.

Avaliação em CiênciasOs experimentos podem ser um bom caminho para avaliar o que a turma conhece sobre os estados físicos da matéria, por exemplo. Proponha uma experiência com dois copos d’água. Encha um deles com água e coloque gelo no outro. Pergunte qual copo tem mais água e o que acontece com o gelo quando ele começa a derreter. Pode ser um bom ponto de partida para o trabalho.

Avaliação em HistóriaNo 6º ano, comece pedindo aos alunos que escrevam o que entendem por História. Observe se todos conseguem ver os fatos como parte de um processo histórico. Leve quatro trechos de documentos: a carta de Pero Vaz de Caminha (1450-1500), a Lei Áurea, uma notícia nacional de poucos anos atrás e uma reportagem do jornal do dia. Verifique se a turma compreende fatos recentes como parte deste processo.


Primeiros contatos com os mapas na GeografiaNão sabe se os alunos já tiveram contato com a leitura e produção de mapas? Uma opção de diagnóstico é pedir que desenhem um mapa com o que se lembram da escola. Verifique se os alunos usam os elementos cartográficos, como legenda, título e indicações de escala.


Teoria e prática na avaliação em Educação FísicaAs aulas de Educação Física são, geralmente, voltadas à prática. Este não é um motivo para deixar a teoria de lado. Comece o ano fazendo perguntas diretas sobre as modalidades e a cultura corporal, como ‘Conhece o jogo?’ ou ‘Quais são os materiais usados?’. Depois, articule a teoria com a experimentação.

 Avaliação em Língua EstrangeiraUma boa sugestão é selecionar dois tipos de textos simples: um anúncio de um filme e outro de um produto, por exemplo. Faça perguntas que exijam a capacidade de encontrar as respostas no material, como: ‘A que horas é o filme?’ e ‘Quanto custa o produto anunciado?’. Assim, saberá o que os alunos conhecem a respeito de um novo idioma.

 Avaliação em ArteProponha que a classe faça trabalhos de autoria, usando diferentes técnicas artísticas para expor suas ideias, como pintura, escultura, desenho e colagem. Verifique se a turma rompe estereótipos quando está em atividades de criação e se utiliza referências, para, então, definir que linguagens precisam ser aprofundadas ao longo do ano.